O consórcio tem como co-fundador João Augusto Fortes, um dos primeiros Líderes da Realidade Climática brasileiro
O Co-fundador e coordenador de articulação da Aliança Reflorestar da Amazônia, João Augusto Fortes, também é um dos primeiros Líderes da Realidade Climática brasileiros, treinado em 2009 na Cidade do México. Recentemente, Fortes participou do Treinamento Virtual Global 2020, e agora chega o momento de compartilhar com a rede do Climate Reality Project Brasil a história do Líder que há mais de 30 anos atua em defesa da Amazônia.
Engenheiro de formação, João Augusto Fortes iniciou sua trajetória ambiental entre os anos 1987 e 1988, quando apoiou diretamente o trabalho do líder sindicalista e ambientalista Chico Mendes (1944-1988). Já na década seguinte, foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Couro Vegetal da Amazônia, projeto precursor em extrativismo sustentável, ao lado da empresária Maria Beatriz Saldanha Tavares, seringueiros e indígenas do estado do Acre.
O trabalho do Líder da Realidade Climática também se destaca como sendo uma das principais lideranças mobilizadoras para a participação da Sociedade Civil na Conferência Rio-92 no Brasil. Além disso, em 1996, começou atuar com as comunidades indígenas da Amazônia, até que em 2003, junto com Ailton Krenak e Rodrigo Baggio, criou a Rede Povos da Floresta, onde trabalhou até 2010. No mesmo período, foi coordenador e articulador do Projeto 30 Pontos de Cultura Indígena, também ao lado de Krenak.
Suas atividades se estendem ao apoio a captação de recursos para a construção do Centro Yorenka Ãtame, às margens do Rio Juruá, no Acre, em apoio ao líder Benki Ashaninka. Entre 2007 e 2009, financiou o reflorestamento do entorno do Centro, em uma área de 80 ha que antes era pasto e que hoje é uma floresta abundante. Em 2012, na Rio+20, produziu para a ONU, junto com Alice e equipe, a premiação da Equator Initiative, com inscrições de mais de 800 comunidades de todo o mundo para reduzir a pobreza por meio da conservação e do uso sustentável da biodiversidade. No projeto Alto Juruá, realizado pela Associação Apiwtxa, dos Ashaninka do rio Amônia, e financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES, trabalhou até 2018 como coordenador de articulação e estratégia.
Desde o início de 2021, João Augusto Fortes trabalha ao lado de uma equipe de 10 pessoas e 5 organizações consorciadas, na Aliança Reflorestar da Amazônia, um consórcio sem fins lucrativos, entre organizações não-governamentais, associações indígenas, cooperativas de produtores e empresas, a Aliança Reflorestar da Amazônia tem uma agenda de ações planejadas para plantios agroflorestais em comunidades tradicionais da Amazônia, a partir do Acre.
Na primeira semana de dezembro, João Augusto Fortes realizou uma entrevista para o Climate Reality Project Brasil, que também contou com a presença de Araci Queiroz. Em uma conversa repleta de histórias, curiosidades e aprendizados, o co-fundador da Aliança Reflorestar da Amazônia nos contou sobre a concepção da iniciativa, conquistas e planos para a Aliança, e sobre o engajamento dos jovens.
Como se deu a concepção da Aliança Reflorestar da Amazônia?
As pessoas envolvidas no consórcio são indivíduos de luta e resistência pelo meio ambiente, especialmente na Amazônia. Por isso, como tem sido o trabalho de vocês nos últimos anos, considerando a pandemia da Covid-19, os desastres ambientais crescentes e a falta de apoio do governo federal?
O ano de 2019 foi marcado por graves queimadas na Amazônia, noticiadas internacionalmente, o que gerou uma nova onda de mobilizações em todo o mundo pela proteção da floresta. Fui procurado naquele momento por muita gente, do Brasil e do exterior, buscando formas de ajudar, o que me levou a novas articulações entre apoiadores, ativistas, ONGs e, principalmente, entre lideranças indígenas e não indígenas tradicionais da região. Os desastres que se seguiram e a falta de apoio do governo federal acabaram por estimular a ação daqueles que se preocupam. Sentimos que a sociedade civil – eu, você, todos os líderes desta rede, e quem quer que queira ajudar – temos um papel a cumprir ainda maior do que já tínhamos alguns anos atrás. Entendemos que se precisa ser feito, não basta falar, temos que fazer, e nisso estamos trabalhando através desta Aliança.
“Sentimos que a sociedade civil – eu, você, todos os líderes desta rede, e quem quer que queira ajudar – temos um papel a cumprir ainda maior do que já tínhamos alguns anos atrás. Entendemos que se precisa ser feito, não basta falar, temos que fazer, e nisso estamos trabalhando através desta Aliança.”
Desde então esta mobilização só vem crescendo e, diante do agravamento da crise social, econômica e ambiental no Brasil, tornou-se urgente a organização deste novo movimento para recuperar áreas degradadas e aumentar a segurança alimentar das comunidades participantes. Nossas ações apoiam iniciativas dos próprios povos da floresta, fortalecendo sua liderança, governança e autonomia dentro e fora de seus territórios.
Nossa proposta de reflorestamento visa atuar em áreas dentro e no entorno de Terras Indígenas (TIs) e Reservas Extrativistas (RESEX), regenerando terras desmatadas e degradadas pela ação do homem. Fazemos isso através da parceria com os povos da floresta, por meio do plantio de sistemas agroflorestais, que gera uma mata rica e biodiversa.
Criada como um consórcio, sem fins lucrativos, entre organizações não-governamentais, associações indígenas, cooperativas de produtores e empresas, a Aliança Reflorestar da Amazônia tem uma agenda de ações planejadas para plantios agroflorestais em comunidades tradicionais da Amazônia, a partir do Acre. Iniciamos nossas atividades neste ano de 2021, com estímulo às comunidades e mobilização do coletivo com visitas a experiências exemplares de replantio por agrofloresta na Amazônia e troca de conhecimentos entre lideranças locais. As próximas ações estão previstas para janeiro de 2022.
No dia 04 de novembro, nosso movimento foi lançado publicamente em uma Live no Instagram @aliancareflorestar com mediação de Estevão Ciavatta (sócio-fundador da Pindorama Filmes e diretor do documentário Amazônia Sociedade Anônima de 2019) e participação de Ailton Krenak (escritor e filósofo, considerado um dos principais líderes indígenas brasileiros e apoiador da Aliança Reflorestar) e Isku Kua (cacique da aldeia Nova Esperança, do povo Yawanawá, participante de ações atuais da Aliança).
Quais foram as grandes conquistas da Aliança Reflorestar da Amazônia que vocês gostariam de compartilhar?
Quais novidades da Aliança poderiam compartilhar conosco?
Somos uma Aliança com força de atuação local e potência de conexão global. Estamos reativando uma rede histórica de mobilização para a proteção das florestas e resistências das populações indígenas e tradicionais em seus territórios na Amazônia. Nosso movimento iniciou este ano no estado do Acre conectando-se à história de preservação e da força cultural dos povos da região.
Incentivamos o reencontro da antiga Aliança dos Povos da Floresta, montada no final da década de 1980 por lideranças indígenas como Ailton Krenak, e de seringueiros, como Chico Mendes, além do sertanista Txai Macedo (cuja Fundação Txai também faz parte do consórcio). Há mais de trinta anos, a pauta era a demarcação de territórios coletivos indígenas e extrativistas. Agora, é urgente se unir outra vez para enfrentar os desafios atuais, e desenvolver novas formas de prosperar dentro dos limites dos territórios, mantendo a floresta de pé.
Consideramos uma grande conquista a união de diferentes povos indígenas e comunidades tradicionais em ações integradas para a defesa da vida na floresta. As atividades iniciadas este ano, e que serão continuadas em 2022, unem três diferentes grupos indígenas para trocas de saberes, experiências e atuação conjunta em seus territórios no Acre: Ashaninka, Yawanawá e Puyanawa.
As próximas ações serão realizadas no período das chuvas: coleta de sementes molhadas, ativação de viveiros e o próprio plantio de mudas escolhidas pelas comunidades. Além da continuação da troca de experiências e o intercâmbio cultural e de saberes entre os diferentes povos para o reflorestamento em agrofloresta.
Conte-nos um pouco sobre o impacto climático positivo causado por essas ações.
Para seu crescimento, as árvores absorvem o carbono que está no ar e no solo transformando-o em celulose. Esta ação sequestra esse carbono da atmosfera, contribuindo para minimizar as mudanças climáticas. Muitos especialista e cientistas do clima dizem que uma maneira efetiva de diminuir o aumento da temperatura global é plantando árvores.
Além disso, na Amazônia, a floresta contribui para o fenômeno dos “rios voadores”, de vital importância para as chuvas nos Estados do Centro Oeste e Sudeste do Brasil.
Outro aspecto importante de lembrar é que, ao apoiar os povos tradicionais da Amazônia, apoiamos os verdadeiros guardiões da floresta. Quem está em campo, na linha de frente, é quem consegue garantir que a floresta continue viva e protegida. Ao criar e estimular uma rede de trocas e apoio entre diferentes povos indígenas, ribeirinhos e extrativistas, fortalecemos cada comunidade que dela participa. Também valorizamos a cultura da floresta, permitindo uma ação que se sustenta a longo prazo, estruturada em práticas culturais tradicionais que estimulam a governança das comunidades locais e mantém a floresta de pé.
“(...) ao apoiar os povos tradicionais da Amazônia, apoiamos os verdadeiros guardiões da floresta.”
Após a COP26 e a representatividade levada pelos jovens ativistas, o que vocês, com mais anos de caminhada, podem vislumbrar para o nosso futuro ao se tratar de meio ambiente?
Na equipe central, na equipe de articulação, e nas equipes locais, eu sou o mais velho. A idade média de toda a equipe pode ser calculada como metade da minha. A Coordenadora Executiva, hoje, é a Alice Fortes, minha filha, que tem uma percepção de todo o projeto com muito mais dinamismo do que eu. A equipe toda já convive com essas questões desde a adolescência e trazem uma contribuição com relação aos apoios externos, à participação de apoiadores individuais e organizacionais, muito mais amplo do que a minha contribuição.
As lideranças locais, inclusive as indígenas, já possuem a participação de jovens. Isku Kua Yawanawá, com 30 anos de idade, foi escolhido pela comunidade de sua aldeia, Nova Esperança, como cacique. Ele hoje é uma liderança reconhecida internacionalmente. Os mais jovens já trazem conhecimentos de internet, equipamentos e tecnologias de informação, redes sociais e plataformas de trabalho.
Isso também vai contribuir com os apoios e a participação internacional dos mais jovens na nossa Aliança Reflorestar da Amazônia.
Trabalhamos diretamente com comunidades tradicionais indígenas, ribeirinhas e extrativistas, promovendo um modelo de vida baseado na restauração da paisagem local, que se sustenta ao longo de gerações e se fortalece na floresta viva e saudável.
Nossa iniciativa permite a manutenção da biodiversidade plena e abundante da maior selva tropical do planeta que, junto com a geração de água doce, são a verdadeira riqueza da Amazônia. Além disso, a coleta de sementes de árvores de madeira de lei em matrizes nativas, algumas em extinção, favorece o patrimônio genético da flora amazônica.
Acreditamos que incentivar, valorizar e fortalecer uma rede de comunidades tradicionais com foco no reflorestamento por agrofloresta é um investimento no futuro. Não apenas porque as árvores plantadas hoje crescerão e nascerão frutos em alguns anos, mas porque, ao ritmo com que a Amazônia vem sendo destruída, a restauração da cobertura florestal se fará cada vez mais urgente e necessária.
“Acreditamos que incentivar, valorizar e fortalecer uma rede de comunidades tradicionais com foco no reflorestamento por agrofloresta é um investimento no futuro.”
Investir numa rede de comunidades locais que enxerga a importância de manter a floresta de pé é plantar uma semente que gera frutos; a multiplicação, não apenas da técnica de plantio agroflorestal, mas também da visão de mundo que a sustenta é a garantia de proteção e regeneração da Amazônia hoje e no futuro.
Além disso, nossas ações estão diretamente relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, corroborando com a Agenda 2030. Os principais ODS atendidos por nossa iniciativa são os seguintes: 1 Erradicação da pobreza; 2 Fome zero e Agricultura sustentável; 3 Saúde e Bem estar; 8 Trabalho decente e crescimento econômico; 12 Consumo e produção responsável; 13 Ação contra a mudança global do clima; 15 Vida terrestre; e 17 Parcerias e meios de implementação. O último relatório do IPCC aponta que as medidas de recuperação de áreas degradadas em todo o globo precisam ser priorizadas. A Aliança nasce em 2021, primeiro ano da década da restauração florestal da ONU. Juntos vamos restaurar, regenerar, reflorestar – reconhecer e expandir o valor da floresta em pé e de seus guardiões!
Além das doações, como os Líderes da Realidade Climática e o Climate Reality Project Brasil podem apoiar esse trabalho?
Agradecemos a divulgação da Aliança Reflorestar da Amazônia pelo Climate Reality Project Brasil.
Além de doações individuais para o plantio de árvores nas áreas atendidas pelo projeto, a Aliança Reflorestar da Amazônia precisa hoje ampliar as conexões com parceiros, apoiadores, financiadores e patrocinadores, fortalecendo sua rede de apoio, de forma a expandir sua atuação nos territórios e junto às comunidades da Amazônia.
Ficamos à disposição para nos conectar com a direção e time de Líderes da Realidade Climática e convidamos a todos a conhecer e integrar nossa Aliança, compartilhando experiências e apoio recíproco.
Visite o site: Aliança Reflorestar da Amazônia.
Comments