O Líder da Realidade Climática, Ahmed ADJEZ, compartilha artigo sobre queimadas no Pantanal.
O Pantanal, no meio da pandemia COVID-19, está roubando a cena e ganhando da Amazônia no registro ou medições de desmatamento nos biomas brasileiros. Efetivamente, as queimadas atuais no Pantanal, que os especialistas consideram como a maior tragédia ambiental deste bioma, estão fazendo as manchetes dos jornais, TVs, etc.., O hastag #Pantanal e associados qualificativos bomba na internet e tem resultado em alertas lançadas de dentro e fora do Brasil, evento acerbado pelas preocupações internacionais devido à vigente crise climática global.
O bioma do Pantanal , de uma beleza natural exuberante, é considerado como uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta e é extremamente importante para a
conservação da diversidade biológica. O que está havendo ultimamente por lá, como foi infelizmente o caso nas Amazonas o ano passado (2019), é muito triste pois os incêndios florestais neste bioma estão ocorrendo com uma recorrência dramática, se espalhando territorialmente e causando uma tragédia nacional.
I. Queimadas no Pantanal: Situação, possíveis causas e prováveis impactos para o Brasil O monitoramento da situação atual -até 13/09/2020- pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE, 2020) como mostrado na figura 2 e alguns dados cruzados indicam que o fogo já destruiu mais de 2,3 milhões de hectares do Pantanal e, apesar de ocupar um território maior em Mato Grosso do Sul, é o vizinho Mato Grosso que tem a maior área destruída. Apenas em Mato Grosso, um (1) milhão de hectares foram destruídos. O fogo no Pantanal destrói o equivalente a quase 10 vezes as cidades do Rio e de São Paulo juntas (Globo, 2020).
Pior ainda, estes incêndios ameaçam o berçário natural de mamíferos e aves do Pantanal mato-grossense, deixando animais únicos –alguns em via de extinção- sem moradia e alimentos, dando um golpe na rica biodiversidade brasileira, o que é por si mesmo um crime ecológico incomensurável. Decorrente do aumento das queimadas e da devastação no Pantanal dos Estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), vários Estados brasileiros registraram incêndios nos últimos dias. A fumaça das queimadas no Pantanal se estende (figura 3) por mais de três (3) mil quilômetros e atinge o Sul e o Sudeste do país, atingindo o Rio Grande do Sul (RS).
A fumaça das queimadas no Pantanal se estende (figura 3) por mais de três (3) mil quilômetros e atinge o Sul e o Sudeste do país, atingindo o Rio Grande do Sul (RS).
Em outras latitudes, na costa oeste dos EUA, os incêndios e as queimadas das florestas fazem, infelizmente, as manchetes tristes das notícias internacionais (Politico, CNN, Washington Post, 2020). Os incêndios se estenderam ao longo de toda a costa oeste da fronteira dos EUA com o México até o Canadá.
Mas quais são as prováveis causas destas queimadas?
1) Será que alguns focos de incêndio na mata são de origem criminosa? O tempo dirá!
2) Será que a clareira nas florestas do local, atividade puramente antrópica, é voluntariamente praticada por motivos de atividades agropecuárias rurais (transformações e substituição da vegetação natural por espécies vegetais exóticas, lavouras temporárias, silvicultura, etc...)?
Para continuar avançando na compreensão da tragédia que se desenrola no Pantanal, seria bom mostrar as condições climáticas que prevalecem no Brasil e que são objeto de monitoramento permanente pelo instituto INMET. A situação é realmente muito preocupante, pois uma parte muito importante do território vive em condições anormalmente secas e relativamente quentes. As figuras a seguir falam por si.
Agora, ...
3) Será que a falta de chuva e a seca prevalente na maior parte do país veio contribuir nesta tragédia? Esta hipótese é muito provável pois o Programa “Monitor de Secas” da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico -ANA- indica que, em agosto de 2020, o Mato Grosso do Sul se destaca como o único Estado coberto pelo Programa a apresentar 100% do território com condição de seca. No mapa de julho de 2020, o primeiro a ser publicado, o Estado apresenta 3 graus de severidade de seca: moderada, grave e extrema.
Como mostra o conjunto de figuras no 5 a, b, c acima, a situação indica que a maior parte do Centro do Brasil e quase todo o quarto norte estão em um estado de seca -de extrema ou grave a moderada- pois o cúmulo máximo registrado nesta região não excede aos 200 mm de precipitação (figura 7).
Desde o início de 2020, a estiagem está prevalecendo em grande parte do Brasil, e se tem observado que as regiões centrais do país são as mais afetadas.
Essa situação já afeta as condições das lavouras e das pastagens em vários municípios e mais no Centro Sul do país. A mudança do clima aumenta o risco de incêndios florestais. Um corte rápido das mais recentes informações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2018) mostra (tabela 1) como os efeitos das mudanças nos extremos do clima tem impactos adversos significativos no ambiente físico natural.
O relatório do IPCC, mostrado por dados de observação meteorológicos, aponta que as estações do tempo, que são cada vez mais secas e caracterizadas por uma frequência maior e uma severidade mais aguda por causa da mudança climática atual, vêm aumentando os riscos de incêndios florestais.
O tempo está seco, a mata pega fogo – e deve ter uma causa-, as chamas se espalham -tipo as correntes furiosas das águas de um rio - desafiando todos os meios utilizados para contê-las, as chamas carbonizam terras inteiras e acabam -sem fazer nenhuma distinção- com bens, propriedades, vidas seja animal, vegetal e até humana. Concomitantemente a este estrago, as fornalhas das chamas contribuem na elevação da temperatura, o ar circundante fica mais quente, o ar mais leve tende a subir o máximo na troposfera4 e leva nesta convecção5 cinzas e partículas. Lá em cima da camada atmosférica, existe a Corrente de jato (Jet Stream)6 que – agindo como corredor dos ventos fortes- transporta para diversas latitudes diversas tudo o que chega nesta altitude troposférica para que a atmosfera se autorregule e regule o seu mecanismo perante estas alterações antrópicas. Neste triste quadro de desastres no Pantanal e vizinhança, na Grande Imagem (The Big Picture) tem uma espécie de poeira invisível, um pixelzinho no quadro que deverá ser levado em conta. Ironia da história, ontem foi uma borboleta e hoje são as cinzas que são as estrelas na história climática em relação ao Brasil. E sim, as cinzas catapultadas pelas chamas das queimadas na troposfera vão alterar e de uma forma significativa a máquina climática.
Em 1972, o professor de meteorologia Edward N. Lorenz evoca, numa noção poética o chamado "efeito borboleta" onde o bater da asa de uma simples e tão fraca borboleta no Brasil pode desencadear uma cascata de eventos atmosféricos que, semanas depois, impulsionam a formação de um tornado no Texas. O 'efeito borboleta' é comumente usado para descrever uma situação onde uma causa muito pequena pode produzir um grande efeito depois de algum tempo. A gente se pergunta se ainda existem borboletas voando nos céus do Pantanal, mas temos que ter a certeza que vão cair chuvas escuras em algumas regiões do Brasil e no mundo.
Os aerossóis, em forma de poeiras ou cinzas, são partículas minúsculas que têm um papel fundamental na formação das nuvens e nas precipitações associadas. As cinzas geradas pelas queimadas do Pantanal vão mexer no sistema no sistema climático e, pior ainda, os outros impactos são dificilmente predictáveis. Hoje em dia, todo mundo percebe a realidade da questão do clima que, visivelmente mudando, está afetando os sistemas sócio-economicos de todos os países do mundo.
No que se refere às cinzas do Pantanal, neste caso, os resultados preliminares do projeto GoAmazon, realizado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP) em parceria com a Universidade da Califórnia (UCLA) e o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE), mostram que os aerossóis impactam diretamente no volume de chuvas, já que determinam a quantidade e o tamanho das nuvens que serão formadas. A umidade disponível no ar se distribui entre as partículas em suspensão (aerossóis), logo uma quantidade grande deles, com pouca umidade disponível, significa nuvens menores. Por outro lado, se existe um volume grande de umidade e de aerossóis disponível, nuvens maiores serão formadas e as chuvas serão mais intensas (USP, 2016).
Ai, sem cair em qualquer especulação que seja, que o décor pode ser plantado com três (3) ingredientes sendo que as cinzas (aerossóis) constituem a triste estrela vilã entropicamente gerada e causada pelas queimadas. Assim, no quadro, temos a seguinte Grande Imagem ilustrada no diagrama 1.
O desmatamento e as queimadas florestais são uma fatalidade que coloca em risco a vida dos seres vivos no planeta Terra. A deflorestação pode levar a consequências graves causando danos ambientais incomensuráveis que vão só agravar ainda a crise climática, considerada a justo título como uma das maiores ameaças para a humanidade. Alguns países severamente impactados, já consideram a mudança climática como um assunto de segurança nacional e tomam as medidas de adaptação/mitigação aos efeitos adversos da mudança do clima seja na execução ou na planificação das políticas onde o desenvolvimento sustentável é o fio condutor.
Num exercício simples, sem alarmismo, a tabela número 2 mostra como cenários catastróficos prováveis podem ameaçar o futuro próximo, transformando o Brasil de – paraíso na Terra- em “maior deserto tropical”, isto se a falta de consciência individual e coletiva continuarem prevalecendo e se o país não mudar de paradigma de desenvolvimentista sem pensar nas suas gerações futuras.
Tabela 2: Prováveis cenários causados impactos das queimadas do Pantanal.
Certamente, é necessário que se amplie o campo de pesquisa para se discernirem melhor as características locais do clima, frequência de ocorrência e impactos dos extremos climáticos – episódios de seca, neste caso- sobre os ecossistemas naturais e os sistemas socioeconômicos.
II. Queimadas no Pantanal: A questão da mudança do clima inundações, secas, desmatamento e outros fenômenos climáticos extremos são comuns no Brasil e são apenas alguns exemplos que fazem a atualidade nacional. Estes eventos extremos decorrentes dos impactos da mudança do clima afetam a vida de milhões de pessoas e a economia do país como tal. Se no passado, o Nordeste do país era particularmente famoso pela seca, atualmente é a parte central do país que está entre as regiões mais expostas aos efeitos adversos do fenômeno da mudança do clima, nomeadamente a seca.
Na 3a Comunicação Nacional (CN) que o Brasil submeteu à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), praticamente todos os biomas e ecossistemas são citados como regiões muito vulneráveis aos impactos da mudança do clima. Estas regiões, que congregam vulnerabilidade climática com vulnerabilidade social, merecem mais do que nunca uma atenção especial das políticas públicas de adaptação. Segundo este relatório (Brasil, 2016), atualmente as condições climáticas destes biomas já são marcadas pela adversidade climática e as projeções futuras são de aumento da temperatura e do estresse hídrico, decorrentes de menores níveis de precipitação, com consequências para a agricultura e a segurança alimentar e nutricional da população do campo.
III. Queimadas no Pantanal: Colmatares e remediação urgentes e perspectivas futuras Para combater e se adaptar à mudança do clima, o Brasil desenvolveu uma série de ações ao nível nacional. A principal delas é a Política Nacional sobre Mudança do Clima -PNMC- (Brasil, 2008). A partir da legislação instituída pela Lei nº 12.187, de 2009, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) define estratégias e propõe políticas relacionadas ao monitoramento e à implementação dos planos setoriais de mitigação e adaptação.
Nesta dinâmica, oito (8) Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação foram criados que são : 1) Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm); 2) Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado (PPCerrado); 3) Plano Decenal de Energia (PDE); 4) Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC); 5) Plano Setorial de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Indústria de Transformação (Plano Indústria); 6) Plano de Mineração de Baixa Emissão de Carbono (PMBC); 7) Plano Setorial de Transporte e Mobilidade Urbana para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima (PSTM); 8) Plano Setorial da Saúde para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima (PSMC Saúde). No caso do Pantanal, os Planos 1, 2 e 4 entre outros - instituídos pelo PNMC- são, com certeza, muito relevantes mas precisam ser reforçados com mais recursos com um foco especial nos biomas brasileiros em geral.
O Brasil é bastante vulnerável à mudança do clima. Mesmo sendo um fenômeno global, a questão da mudança do clima se manifesta mais em escalas localizadas causando impactos e exigindo respostas em níveis local e setorial. O desmatamento e as queimadas florestais, tanto como as emissões geradas pela queima de combustíveis fósseis que emitem poluentes e gases de efeito estufa associados , estão no centro da crise climática.
A conservação e a gestão de áreas naturais, gestão de riscos futuros oriundo dos efeitos da mudança do clima, a adaptação baseada em ecossistemas, a gestão integrada de recursos são itens essenciais e têm uma importância estratégica no planejamento de ações eficazes de adaptação nos biomas brasileiros.
Entre os percursos resilientes ao clima e uma transformação visando uma melhor resiliência: os princípios de proteção da fauna e flora, conservação, agricultura sustentável, economia verde, finanças verdes podem ser aproveitadas e integradas nas políticas de desenvolvimento econômico e social.
Além de se adaptar aos efeitos adversos da mudança do clima, espera-se alcançar, através destes princípios e conceito de desenvolvimento sustentável , a prosperidade social mais inclusiva e um crescimento econômico local mais significativo.
De fato, a promoção de novas atividades econômicas mais sustentáveis usando tecnologias limpas, o objetivo será de conservar recursos naturais, aumentar a produção agropecuária, promover a inclusão de famílias, a proteção de assentamentos rurais e de comunidades tradicionais vulneráveis.
A sociedade civil tem um papel determinante no acompanhamento e na sustentação das políticas públicas e precisa se inscrever numa dinâmica participatória e responsável tirando proveito das oportunidades e dos mecanismos de financiamento das Convenções internacionais sobre o Clima UNFCCC, Diversidade Biológica CBD, Combate Desertificação UNCCD, etc.. tais como: REDD+, PAGE (Economia Verde), GCF, Green Bonds Initiative, etc.
Então, temos que ser persuasivos e confiantes no Brasil, certos de que este país tem orgulho e confia no seu exército do bem, formado pelo povo e seus governantes, que está pronto para proteger a natureza e seu patrimônio natural, em 1o lugar, preocupando-se não só com a sua gente como com toda a humanidade.
O Brasil, o gigante na área ambiental, deve se mover pela sua consciência afim de implementar ações urgentes para enfrentar a crise climática e acionar rapidamente uma agenda em prol de um verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Confira abaixo as referências bibliográficas:
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