Crônicas de Belém: Diário da COP 30
- The Climate Reality BR

- há 2 dias
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Belém recebeu a COP 30 com a força de quem sabe que o futuro da agenda climática global passa, inevitavelmente, pelos territórios, comunidades e juventude. E, entre os corredores lotados das Zonas Verde e Azul, uma coisa ficou evidente já nos primeiros dias: o Brasil chegou pronto para disputar narrativa, defender direitos e mostrar participação popular na pauta climática.
Direitos climáticos no centro e a força dos territórios
No Pavilhão da Infância e Juventude, a mesa “Cartas de Direitos Climáticos: Territórios Tecendo Futuros Possíveis para Crianças e Jovens” colocou no centro a experiência viva das comunidades que, todos os dias, enfrentam os efeitos da crise climática. Destaque para a mesa composta por Isadora Gran, nossa coordenadora de Justiça Climática, Zanone Rodrigues, Edna da Paixão, Tayná Silva e Brenda Pacífico, participantes do movimento das Cartas de Direitos Climáticos.

À noite, a Casa da Cidade ficou pequena para o lançamento do Manifesto por Direitos Climáticos, construído a partir da escuta de territórios e apresentado com a presença da Embaixada do Canadá, parceira do projeto com o Fundo Canadá para Iniciaticas Locais.

Juventude como agente político
Se a COP 30 quer falar de futuro, não há outro caminho que não passe pela juventude. No Pavilhão da Infância e Juventude, o painel “Participação da Juventude nas Negociações Climáticas Internacionais” reafirmou o papel de programas como os Jovens Embaixadores pelo Clima e Operación COP, que incluem a participação da juventude nas negociações internacionais. A mesa contou com nomes como Luan Werneck, nosso analista de projetos, e Maria Gabriella, Jovem Embaixadora pelo Clima da turma de 2024.

Essa atuação também se materializa no acompanhamento diário das discussões oficiais. Os Jovens Embaixadores pelo Clima estavam presentes nas trilhas de negociação, monitorando temas críticos e produzindo relatórios que sintetizam, de forma clara e acessível, os avanços e impasses da conferência. Esses resumos semanais aproximam o público do que acontece dentro das salas de negociação e reforçam o compromisso do programa com a transparência, a formação política e o fortalecimento da participação jovem no enfrentamento da crise climática.

Educação e engajamento ocuparam a Casa da Educação, com o debate “Educação Ambiental Climática: Redes de Ativismo que se Articulam em Face da Crise” reuniu vozes de diferentes regiões, transmitido ao vivo para todo o país. Renata Moraes, nossa gerente da filial, compôs a mesa. A transmissão ao vivo foi realizada no canal do Lebidecom no Youtube.

Na COP do Povo, “Conhecer para Defender: A Construção do Manifesto por Direitos Climáticos a partir de 12 Territórios”, reforçando que direitos climáticos só existem quando são conhecidos, defendidos e exigidos. Todos os membros da delegação das Cartas de Direitos Climáticos deram uma verdadeira aula sobre o que é justiça climática.

Cerrado, democracia e tecnologia climática em destaque
Também na COP do Povo, aconteceu a roda de conversa sobre as vulnerabilidades da Terra Ronca e trouxe à COP a urgência das comunidades do Cerrado. Conheça a Carta de Direitos Climáticos do Terra Ronca, e entenda algumas de suas demandas.

Em paralelo, Al Gore apresentou o Climate TRACE na Zona Azul da COP 30, reforçando o papel da tecnologia para rastrear impactos climáticos com precisão inédita.

Na Casa das ONGs, o diálogo “Democracia em Ação: Participação Social e Governança Climática” mostrou que políticas climáticas justas passam, necessariamente, por processos participativos. Territórios, sociedade civil e juventudes, mais uma vez, construindo soluções. Compuseram a mesa Vera Colares, representando a Carta de Direitos Climáticos de Palmas, trazendo a pauta dos trabalhadores rurais; juntamente com Guilherme Lima, analista do Centro Brasil no Clima, representante do Climate Reality no Brasil.

Infâncias e juventudes: saberes que sustentam futuros
Na Casa Futura, a mesa “Glossário: Pequenos Grandes Saberes” provocou uma reflexão sobre educação climática e infâncias. Sob a perspectiva do coordenador de programas Thalison Corrêa, as crianças aparecem não como público-alvo, mas como agentes de futuro.

Na Zona Verde, a analista de Justiça Climática, Bárbara Gomes, debateu “Justiça Climática e a Permanência da Juventude no Campo”, reforçando que enfrentar a crise climática passa por garantir que jovens da zona rural possam permanecer, produzir e florescer em seus territórios.

Educação Climática na Zona Verde: construindo bases sólidas
Os temas educativos voltaram ao centro dos diálogos. No debate sobre Protocolo Climático nas Escolas, Thalison Corrêa e Renata Moraes destacaram o trabalho de Coalizão Brasileira pela Educação Climática. Também fizeram parte da mesa Tiago Souza, representando a Carta de Direitos Climáticos de Nordeste de Amaralina e André Tovar, do Projeto Skoros.

Na sequência, a gerente da filial, Renata Moraes, apresentou perspectivas sobre o Mapeamento do Ecossistema da Educação Climática, documento idealizada pelo UNICLIMA em parceria com a Coalizão Brasileria pela Educação Climática, Yakarana e The Climate Reality Project Brasil.

Inovação, resiliência e novos horizontes
Com a conferência avançando, as discussões ganharam maturidade. No ODS Talks, na Casa Sustentabilidade Brasil, Renata Moraes reforçou o papel da educação como ferramenta estrutural.

No Pavilhão UFPA/YCL, o analista de projetos Luan Werneck e o Jovem Embaixador pelo Clima Francisco Barbosa discutiram Juventude e Inovação, mostrando como soluções climáticas emergem da criatividade e da urgência das novas gerações.

Já na Zona Azul, Renata Moraes integrou a mesa Construindo Resiliência Climática, apresentando os projetos de educação e justiça climática.

Encontro de Líderes: uma celebração de trajetória
No meio da intensidade da COP 30, um momento especial marcou a agenda institucional: o tradicional Encontro de Líderes do Climate Reality durante a COP 30. Lá reunimos, além dos Líderes da Realidade Climática, gerentes de diversas filiais ao redor do mundo, o nosso diretor executivo, Guilherme Syrkis, e o fundador da organização, Al Gore.

O encontro também abriu espaço para uma homenagem emocionante: a celebração dos dez anos de liderança de Renata Moraes e sua saída frente da filial brasileira. Em seu décimo, e último, ano na gestão do Climate Reality Brasil, Renata foi reconhecida pela contribuição decisiva na consolidação da educação climática como pauta e na formação de uma geração inteira de Líderes da Realidade Climática.
Incidência política das Cartas de Direitos Climáticos
Enquanto as negociações avançam na Zona Azul e os debates aconteciam nos pavilhões oficiais, o movimento das Cartas de Direitos Climáticos seguiu ampliando sua presença política na COP 30, aproximando territórios das esferas de decisão e financiamento. Representantes das cartas, que traduzem vivências, urgências e propostas de diferentes regiões do Brasil, tiveram encontros com autoridades estratégicas, levando a perspectiva de quem vive a crise climática na linha de frente.

Tiago Souza, da Carta de Nordeste de Amaralina, em Salvador, Bahia, abriu a rodada de incidência encontrando a senadora Benedita da Silva.

Samily Maré (Carta da Ilha de Caratateua), Tiago Souza (Carta do Nordeste de Amaralina) e Brenda Pacífico (Carta da Maré), dialogaram com Margareth Menezes, Ministra da Cultura, destacando como arte, memória e pertencimento são ferramentas de proteção climática e preservação de identidades ameaçadas.

Samily, Tiago e Brenda também se reuniram com Tarcísio Motta, deputado federal, apresentando o Manifesto por Direitos Climáticos: Conhecer para Defender ao parlamentar.

A presença dos territórios se expandiu ainda mais com encontros marcados por simbolismo e ancestralidade. Samily Maré esteve com Célia Xakriabá, deputada federal e liderança indígena, reforçando a urgência de políticas que protejam povos e comunidades tradicionais.

Em uma articulação que conectou territórios do Norte ao Sul do país, Zanone Rodrigues (Aldeia Mãe Terra), Brenda Pacífico (Maré), Cosme Fellipsen (Morro da Providência e Pequena África), Edna da Paixão (Sítio Açaí e Jatobá II), Tiago Souza (Nordeste de Amaralina), Samily Maré (Ilha de Caratateua) e Vera Collares (Distrito de Palmas), se reuniram com Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial, levando reivindicações por políticas públicas que reconheçam o impacto racializado da crise climática e garantam proteção para comunidades vulnerabilizadas.

Além disso, Samily Maré encontrou Regis Mota, representante do Fundo CASA, reforçando a importância de financiamento direto para iniciativas comunitárias.

E também esteve com Ursula Vidal, secretária de Cultura do Estado do Pará, fortalecendo a articulação com políticas voltadas para territórios amazônicos e destacando a pauta de Direito à Cultura, presente na Carta de Direitos Climáticos da Ilha de Caratateua.

Edna da Paixão se encontrou com a atriz e comunicadora climática Laila Zaid, e na ocasião, entregou o infográfico da Carta de Direitos Climáticos dos Quilombos Sítio Araçá e Jatobá II, ferramenta de comunicação que traduz, de forma clara e objetiva, as demandas e propostas construídas coletivamente pelo território.

Esses encontros reafirmam que a COP 30 não é apenas um espaço de grandes discursos: é também um território onde lideranças comunitárias podem levar suas pautas diretamente a quem decide, financia e influencia.
Somando Forças pelo Futuro
Além disso, o Centro Brasil no Clima, que representa o Climate Reality no Brasil, teve atuação nesta COP 30 contribuindo para debates sobre governança subancional, mitigação e transição justa, reforçando seu papel como voz estratégica na construção de soluções para o país.

Encerramos mais uma COP 30 com a dedicação da equipe que esteve presente em ações de educação climática, justiça climática, incidência territorial e acompanhamento das negociações. Seguimos juntos na luta contra a crise climática.





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